Mapa dos solos (USDA Natural Resources Conservation, 2002). |
Apesar de
vários trabalhos realizados em torno de solos residuais, o conceito dos mesmos
bem como das suas terminologias, ainda tem sido motivo de algumas
controvérsias, dependendo essencialmente da área de estudo bem
como da região geográfica do mundo. Apesar disso, o conceito mais consensual é de
que solos residuais são materiais
derivados de processos de alteração e decomposição in situ de maciços
rochosos, que não têm sido transportados dos seus locais de origem (Blight,
1997). Assim, tal alteração pode mudar completamente as características físicas
e químicas da rocha de origem, ou pode simplesmente alterar algumas dessas
características.
Portanto, as características apresentadas pelos solos dependem da
combinação de vários factores, tais como das condições climáticas, das
características da rocha-mãe, dos
organismos presentes no solo, das formas do relevo e do tempo de exposição aos
agentes da geodinâmica externa. Sendo que o clima e a rocha-mãe parecem ser os
principais factores. Em função do referido acima, os solos residuais dividem-se
em diversas categorias de acordo com as suas características físicas e
químicas, assim como de acordo com a área de estudo.
Neste artigo analisares apenas os solos residuais de acordo com as
classificações genética, pedológica e de acordo com o perfil de alteração. Ao passo que a
classificação geotécnica será analisada em próximos artigos.
Classificação pedológica
O sistema de classificação mencionado até
ao momento, embora seja útil para se determinar o local aonde se formam, como
se formam, qual a sua constituição física, pouco revela sobre a composição
química e/ou mineralógica, sendo necessário como complemento outras
classificações. E na ausência de qualquer outra informação, tendo cartas de
solos, a classificação baseada em critérios pedológicos, pode ser útil para fins de estudos geológicos (Duarte, 2002).
Apesar de complexos, vastos e a maioria
antigos, os modernos esquemas de classificação são em primeiro lugar
descritivos, permitindo uma descrição e subdivisão mais detalhada dos solos no
campo. Muitos países retiveram a sua própria classificação, mas alguns esquemas
podem ser utilizados universalmente. Em primeiro lugar encontra-se o sistema de
taxonomia da USDA, o sistema da FAO, o sistema de classificação taxonómica
francesa e portuguesa (IICT); e o sistema WRB (Corner, 2007, Barbosa, 1965,
Interdidáctica, 2006).
Segundo a CEP (1965) e a Interdidáctica (2006) em
Angola, os principais tipos de solos residuais são: Psamíticos com cerca de
57,5%, Ferralíticos com 21,6%, Paraferralíticos e Fersialíticos com menores
proporções. As designações dos três últimos solos, estão relacionadas
essencialmente com a composição química presente nesses solos: ferralíticos
(argilo-minerais contendo Fe e Al com relação molecular SiO2/Al2O3), Fersialíticos (argilo-minerais contendo Fe, Si e Al com a relação SiO2/A12
O3> 2 e SiO2/R2O3 <2). Devido a diferença de comportamento, cor, textura e composição química,
esses três solos, estão subdivididos em duas classes: solos de comportamento
laterítico e solos de comportamento não laterítico. Mas, de acordo com estudos
mais recentes, há a indicação
de que os perfis de Angola pertencem sobretudo a dois grupos de referência de
solos (Reference Soil Groups sensu WRB, 2006): os Ferralsolos (Ferralsols)
e os Arenossolos (Arenosols).
Apesar do facto de que para muitas
pesquisadores os solos ferralíticos são sinónimos dos solos lateríticos, é
digno de nota que os solos com comportamento laterítico, embora sejam muito
frequentes em solos ferralíticos, estes não constituem uma característica
essencial das laterites. Na verdade, as laterites também são frequentes em
solos fersialíticos das regiões tropicais e podem encontrar-se ainda noutros
solos destas regiões e, até em certos casos, fora deles (MPA, 1961).
Para facilitar a compreensão e uniformizar
com os conceitos à escala mundial, no presente trabalho serão considerados de
forma generalizada os solos lateríticos como os correspondentes mais próximos
dos “Solos Ferralíticos”, e em sentido restrito os solos lateríticos na sua
fracção fina, como os correspondentes dos solos
que nas Cartas dos solos de Angola (1965) e do Huambo (1961), são chamados de
“Solos ferralíticos típicos” (Tipoferralíticos), conforme a Tabela 1.
As designações de solos “Ferralíticos”, “Psamíticos” e “Fersialíticos”, empregados na classificação taxonómica francesa e portuguesa, recebem várias atribuições quando considerados por outras entidades. A seguir é apresentada uma tabela de correlações das classificações de solos dos Sistema Norte-Americano (USDA), das Nações Unidas (WRB/FAO), Sistema Brasileiro (SIBCS), e do sistema de classificação taxonómica francesa e portuguesa (IICT = CEP e MPA).
As designações de solos “Ferralíticos”, “Psamíticos” e “Fersialíticos”, empregados na classificação taxonómica francesa e portuguesa, recebem várias atribuições quando considerados por outras entidades. A seguir é apresentada uma tabela de correlações das classificações de solos dos Sistema Norte-Americano (USDA), das Nações Unidas (WRB/FAO), Sistema Brasileiro (SIBCS), e do sistema de classificação taxonómica francesa e portuguesa (IICT = CEP e MPA).
Tabela 1 – Correlações entre os principais
sistemas de Classificação de solos aplicada aos solos mais dominantes em
Angola.
| ||||
USDA
|
WRB/FAO
|
SIBCS
|
IICT
(CEP e MPA)
|
Geotecnia
|
Oxisols
|
Ferralsols
|
Latossolos
|
Ferralíticos
|
Lateríticos
|
Entisols
|
Arenosols
|
Neossolos
|
Psamíticos
|
-
|
Inceptisols
|
Cambisols
|
Cambissolos
|
Fersiálicos
|
Saprolíticos
|
Classificação de acordo com o perfil de alteração
Muitos autores recorrem ao uso dos perfis de alteração para obter
uma melhor descrição e classificação dos solos residuais, uma vez que estes são
resultantes de alteração das rochas “in
situ” e, o grau de alteração varia em função da profundidade, idade,
litologia, relevo, etc. Quando existe uma diferenciação no grau de alteração
formam-se os horizontes; o conjunto de horizontes observados num corte vertical
no terreno constitui o perfil do solo; em muitos casos, um perfil atinge
profundidades que vão para além de 2 metros, em que na sua base e suportando o solo e respectivo material
originário, encontra-se normalmente o substrato (rocha sã) ainda não afectado pela acção
dos factores acima referidos.
O uso de perfis de alteração tem mostrado ser eficiente, permitindo
quantificar e representar todas as variáveis ocorrentes ao processo de
alteração da rocha.
Devido a versatilidade litológica e estilos de alteração é praticamente
impossível produzir uma única classificação baseada no grau de alteração das
rochas, adequada para todas as rochas e a todas as escalas, com o mesmo
significado para a Geologia de Engenharia. Sendo assim, a diversidade de
classificação é enorme, tal como os perfis de alteração.
Por isso, as classificações mais utilizadas são as mais
generalistas, favorecendo aspectos mais comuns dos perfis de alteração, em
detrimento dos específicos.
Vargas (1985) apresenta uma classificação
baseada em propriedades e comportamentos, identificando dois tipos de solos
tropicais: residuais, derivados do intemperismo intenso e profundo da rocha
subjacente e solos superficiais, derivados da evolução pedogenética de solos
residuais e transportados. Para os solos residuais admite um horizonte
inferior, com estruturas reliquiares da rocha matriz (saprolito), subdivido em
dois níveis: um superior com poucos fragmentos da rocha matriz e outro
inferior, com blocos e camadas de rocha.
Pastore (1992) estabelece seis horizontes,
dois de solo, um com predominância de processos pedológicos (solo laterítico) e
outro com estruturas reliquiares da rocha (solo saprolítico); um de transição
solo/rocha (saprolito) e três de rocha: muito alterada, alterada e sã.
Vallejo (2002), faz um resumo do perfil de alteração segundo diferentes autores.
Figura 1 - Perfil de alteração de solos, segundo diferentes autores (Vallejo, 2002) |
REFERÊNCIAS
CARDOSO, F.B.F. (2002). “Propriedades e comportamento mecânico de
solos do Planalto Central Brasileiro”. Tese de Doutoramento em Geotecnia.
Departamento de Engenharia Civil e Ambiente. Faculdade de Tecnologia.
Universidade de Brasília.
DUARTE, I. M. R. (2002). “Características geológicas e geotécnicas de
solos residuais de rochas granitóides a sul do Tejo”. Dissertação para
obtenção do grau de Doutor em Geologia de Engenharia. Universidade de
Évora.
DINIZ, A. C., (1998). “Angola - o Meio Físico e Potencialidades Agrárias”. Instituto da
Cooperação Portuguesa, Lisboa.
ESPINDOLA, C. R. & DANIEL, L. A. (2008).
“Laterita e solos lateríticos no Brasil”.
Boletim Técnico da FATEC- SP-BT/24.
FELTEN, DÉBORA (2005). “Estudo sobre solos arenosos
finos lateríticos da Planície costeira sul do Rio do Sul para emprego em
Pavimentação económica”. Fundação
universidade federal do rio grande curso de pós-graduação em engenharia
oceânica.
HEJKRLIK, Jiri (2005). “Solos do Planalto Central em Angola”.
Centro de Educação Agrícola da província do Bié. Governo da província do Bié.
MISSÃO DE PEDOLOGIA DE ANGOLA E MOÇAMBIQUE E CENTRO DE
ESTUDO DE PEDOLOGIA TROPICAL (1965).“3ª
Aproximação da Carta Generalizada dos Solos de Angola”. Junta das Missões e
de Investigações do Ultramar. Ministério do Ultramar.
MISSÃO DE PEDOLOGIA DE ANGOLA (1961). “Carta Geral dos Solos de Angola –
II-Distrito de Huambo”. Junta de Investigação Ultramar. Ministério do
Ultramar.
RICARDO, R. P. (1961). “Características dos ácidos húmicos de alguns solos de Angola”.
Estudos, ensaios e documentos nº87. Junta de investigação do ultramar, Lisboa.
SERTOLI, PAOLO ENRICO
(2009). As características do complexo de troca e a classificação dos solos da
República de Angola. Dissertação para obtenção do Grau de
Mestre em Engenharia Agronómica.
Instituto Superior de Agronomia. Universidade Técnica de Lisboa.
Sem comentários:
Enviar um comentário