sexta-feira, 10 de abril de 2015

TIPOS DE SOLOS RESIDUAIS


Mapa dos solos (USDA Natural Resources Conservation, 2002).
Apesar de vários trabalhos realizados em torno de solos residuais, o conceito dos mesmos bem como das suas terminologias, ainda tem sido motivo de algumas controvérsias, dependendo essencialmente da área de estudo bem como da região geográfica do mundo. Apesar disso, o conceito mais consensual é de que solos residuais são materiais derivados de processos de alteração e decomposição in situ de maciços rochosos, que não têm sido transportados dos seus locais de origem (Blight, 1997). Assim, tal alteração pode mudar completamente as características físicas e químicas da rocha de origem, ou pode simplesmente alterar algumas dessas características.

Portanto, as características apresentadas pelos solos dependem da combinação de vários factores, tais como das condições climáticas, das características da rocha-mãe, dos organismos presentes no solo, das formas do relevo e do tempo de exposição aos agentes da geodinâmica externa. Sendo que o clima e a rocha-mãe parecem ser os principais factores. Em função do referido acima, os solos residuais dividem-se em diversas categorias de acordo com as suas características físicas e químicas, assim como de acordo com a área de estudo.
Neste artigo analisares apenas os solos residuais de acordo com as classificações genética, pedológica e de acordo com o perfil de alteração. Ao passo que a classificação geotécnica será analisada em próximos artigos.



  Classificação pedológica

O sistema de classificação mencionado até ao momento, embora seja útil para se determinar o local aonde se formam, como se formam, qual a sua constituição física, pouco revela sobre a composição química e/ou mineralógica, sendo necessário como complemento outras classificações. E na ausência de qualquer outra informação, tendo cartas de solos, a classificação baseada em critérios pedológicos, pode ser útil para fins de estudos geológicos (Duarte, 2002).

Apesar de complexos, vastos e a maioria antigos, os modernos esquemas de classificação são em primeiro lugar descritivos, permitindo uma descrição e subdivisão mais detalhada dos solos no campo. Muitos países retiveram a sua própria classificação, mas alguns esquemas podem ser utilizados universalmente. Em primeiro lugar encontra-se o sistema de taxonomia da USDA, o sistema da FAO, o sistema de classificação taxonómica francesa e portuguesa (IICT); e o sistema WRB (Corner, 2007, Barbosa, 1965, Interdidáctica, 2006).


Segundo a CEP (1965) e a Interdidáctica (2006) em Angola, os principais tipos de solos residuais são: Psamíticos com cerca de 57,5%, Ferralíticos com 21,6%, Paraferralíticos e Fersialíticos com menores proporções. As designações dos três últimos solos, estão relacionadas essencialmente com a composição química presente nesses solos: ferralíticos (argilo-minerais contendo Fe e Al com relação molecular SiO2/Al2O3), Fersialíticos (argilo-minerais contendo Fe, Si e Al com a relação SiO2/A12 O3> 2 e SiO2/R2O3 <2). Devido a diferença de comportamento, cor, textura e composição química, esses três solos, estão subdivididos em duas classes: solos de comportamento laterítico e solos de comportamento não laterítico. Mas, de acordo com estudos mais recentes, há a indicação de que os perfis de Angola pertencem sobretudo a dois grupos de referência de solos (Reference Soil Groups sensu WRB, 2006): os Ferralsolos (Ferralsols) e os Arenossolos (Arenosols).
Apesar do facto de que para muitas pesquisadores os solos ferralíticos são sinónimos dos solos lateríticos, é digno de nota que os solos com comportamento laterítico, embora sejam muito frequentes em solos ferralíticos, estes não constituem uma característica essencial das laterites. Na verdade, as laterites também são frequentes em solos fersialíticos das regiões tropicais e podem encontrar-se ainda noutros solos destas regiões e, até em certos casos, fora deles (MPA, 1961).
Para facilitar a compreensão e uniformizar com os conceitos à escala mundial, no presente trabalho serão considerados de forma generalizada os solos lateríticos como os correspondentes mais próximos dos “Solos Ferralíticos”, e em sentido restrito os solos lateríticos na sua fracção fina, como os correspondentes dos solos que nas Cartas dos solos de Angola (1965) e do Huambo (1961), são chamados de “Solos ferralíticos típicos” (Tipoferralíticos), conforme a Tabela 1.

As designações de solos “Ferralíticos”, “Psamíticos” e “Fersialíticos”empregados na classificação taxonómica francesa e portuguesa, recebem várias atribuições quando considerados por outras entidades. A seguir é apresentada uma tabela de correlações das classificações de solos dos Sistema Norte-Americano (USDA), das Nações Unidas (WRB/FAO), Sistema Brasileiro (SIBCS), e do sistema de classificação taxonómica francesa e portuguesa (IICT = CEP e MPA).



Tabela 1 – Correlações entre os principais sistemas de Classificação de solos aplicada aos solos mais dominantes em Angola.
USDA
WRB/FAO
SIBCS
IICT
(CEP e MPA)
Geotecnia
Oxisols
Ferralsols
Latossolos
Ferralíticos
Lateríticos
Entisols
Arenosols
Neossolos
Psamíticos
-
Inceptisols
Cambisols
Cambissolos
Fersiálicos
Saprolíticos



  Classificação de acordo com o perfil de alteração
Muitos autores recorrem ao uso dos perfis de alteração para obter uma melhor descrição e classificação dos solos residuais, uma vez que estes são resultantes de alteração das rochas “in situ” e, o grau de alteração varia em função da profundidade, idade, litologia, relevo, etc. Quando existe uma diferenciação no grau de alteração formam-se os horizontes; o conjunto de horizontes observados num corte vertical no terreno constitui o perfil do solo; em muitos casos, um perfil atinge profundidades que vão para além de 2 metros, em que na sua base e suportando o solo e respectivo material originário, encontra-se normalmente o substrato (rocha sã) ainda não afectado pela acção dos factores acima referidos.
O uso de perfis de alteração tem mostrado ser eficiente, permitindo quantificar e representar todas as variáveis ocorrentes ao processo de alteração da rocha.
Devido a versatilidade litológica e estilos de alteração é praticamente impossível produzir uma única classificação baseada no grau de alteração das rochas, adequada para todas as rochas e a todas as escalas, com o mesmo significado para a Geologia de Engenharia. Sendo assim, a diversidade de classificação é enorme, tal como os perfis de alteração.
Por isso, as classificações mais utilizadas são as mais generalistas, favorecendo aspectos mais comuns dos perfis de alteração, em detrimento dos específicos.

Vargas (1985) apresenta uma classificação baseada em propriedades e comportamentos, identificando dois tipos de solos tropicais: residuais, derivados do intemperismo intenso e profundo da rocha subjacente e solos superficiais, derivados da evolução pedogenética de solos residuais e transportados. Para os solos residuais admite um horizonte inferior, com estruturas reliquiares da rocha matriz (saprolito), subdivido em dois níveis: um superior com poucos fragmentos da rocha matriz e outro inferior, com blocos e camadas de rocha.
Pastore (1992) estabelece seis horizontes, dois de solo, um com predominância de processos pedológicos (solo laterítico) e outro com estruturas reliquiares da rocha (solo saprolítico); um de transição solo/rocha (saprolito) e três de rocha: muito alterada, alterada e sã.

Vallejo (2002), faz um resumo do perfil de alteração segundo diferentes autores.

Figura 1 - Perfil de alteração de solos, segundo diferentes autores (Vallejo, 2002)



REFERÊNCIAS

CARDOSO, F.B.F. (2002). “Propriedades e comportamento mecânico de solos do Planalto Central Brasileiro”. Tese de Doutoramento em Geotecnia. Departamento de Engenharia Civil e Ambiente. Faculdade de Tecnologia. Universidade de Brasília.

DUARTE, I. M. R. (2002). “Características geológicas e geotécnicas de solos residuais de rochas granitóides a sul do Tejo”. Dissertação para obtenção do grau de Doutor em Geologia de Engenharia. Universidade de Évora. 
 
DINIZ, A. C., (1998). “Angola - o Meio Físico e Potencialidades Agrárias”. Instituto da Cooperação Portuguesa, Lisboa.

ESPINDOLA, C. R. & DANIEL, L. A. (2008). “Laterita e solos lateríticos no Brasil”. Boletim Técnico da FATEC- SP-BT/24.

FELTEN, DÉBORA (2005).Estudo sobre solos arenosos finos lateríticos da Planície costeira sul do Rio do Sul para emprego em Pavimentação económica”. Fundação universidade federal do rio grande curso de pós-graduação em engenharia oceânica.

HEJKRLIK, Jiri (2005). “Solos do Planalto Central em Angola”. Centro de Educação Agrícola da província do Bié. Governo da província do Bié.

MISSÃO DE PEDOLOGIA DE ANGOLA E MOÇAMBIQUE E CENTRO DE ESTUDO DE PEDOLOGIA TROPICAL (1965).“3ª Aproximação da Carta Generalizada dos Solos de Angola”. Junta das Missões e de Investigações do Ultramar. Ministério do Ultramar.

MISSÃO DE PEDOLOGIA DE ANGOLA (1961). “Carta Geral dos Solos de Angola – II-Distrito de Huambo”. Junta de Investigação Ultramar. Ministério do Ultramar.

RICARDO, R. P. (1961). “Características dos ácidos húmicos de alguns solos de Angola”. Estudos, ensaios e documentos nº87. Junta de investigação do ultramar, Lisboa.

SERTOLI, PAOLO ENRICO (2009). As características do complexo de troca e a classificação dos solos da República de Angola. Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Agronómica. Instituto Superior de Agronomia. Universidade Técnica de Lisboa.

VAZ, L. F. (1996). “Classificação genética dos solos e dos horizontes de alteração de rochas em regiões tropicais”. In: Rev. Solos e Rochas, v.19, n. 2, p. 117-136, ABMS/ABGE, São Paulo, SP, 1996

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