sexta-feira, 10 de abril de 2015

SOLOS RESIDUAIS DE ANGOLA_ESTUDOS PRELIMINARES



Durante muitos anos o estudo sobre os solos residuais tem tomado cada vez mais relevância nas lides das mais diversas academias de geociências mundiais com maior realce para o Brasil, regiões Centro e Sul de África, e algumas outras regiões de clima tropical húmido onde esses solos têm maior representação.
Os solos residuais estão distribuídos por muitas regiões do mundo, tais como: África, o Sul da Ásia, Austrália, parte Sudeste da América do Norte, América Central e respectivas ilhas, América do Sul e regiões consideráveis da Europa. As maiores áreas e espessuras destes solos ocorrem normalmente em regiões tropicais húmidas, tais como: Brasil, Ghana, Malásia, Nígeria, Sul da Índia, Srilanka, Singapura e Filipinas (Brand e Phillipson,1985. Citado em Duarte, 2002 e USDA Natural Resources conservation, 2004).


Figura 1 – Mapa dos solos (USDA Natural Resources Conservation, 2002.

Em Angola, a primeira informação conhecida sobre os solos data de 1878, mas o estudo sistemático dos mesmos, segundo uma perspectiva pedológica iniciou-se em 1946, devido à iniciativa da Secção de Física Agrícola do Instituto Superior de Agronomia, procedeu nesse ano ao reconhecimento preliminar dos solos da região planáltica (Botelho da Costa & Azevedo,1947; citado por Sertoli, 2009).
A partir de 1951, com a colaboração da Junta de Investigações do Ultramar, hoje Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT), onde se constituíram a Missão de Pedologia de Angola - MPA (1953-1973) e o Centro de Estudos de Pedologia Tropical - CEPT (1960-2004), o estudo dos solos de Angola intensificou-se de forma notável, continuando a fazer-se em íntima ligação com o Instituto Superior de Agronomia. (Ricardo,1961)
Com o trabalho de outras entidades, quer grupos privados actuando no domínio da caracterização e cartografia de solos, quer núcleos de investigação dos serviços oficiais de Angola, a actividade em Angola decorreu principalmente nas seguintes áreas: caracterização, classificação e cartografia dos solos; física, química e mineralogia do solo; pedogénese; micromorfologia do solo; degradação, conservação e recuperação dos solos; fertilidade do solo e nutrição mineral das culturas; tecnologia geral do solo, com relevo para a tecnologia da fertilização; pedoclima (Sertoli, 2009).
Muitos dos estudos realizados em Angola revestiram-se de um carácter pioneiro e tiveram marcada projecção no estrangeiro, de tal modo que foi mesmo reconhecida internacionalmente a existência de uma “Escola Portuguesa de Pedologia Tropical”.
Por exemplo, quando a Carta dos Solos da Huila veio a lume, realizaram-se em Africa duas reuniões internacionais de grande importância em relação a classificação dos solos africanos: a chamada “Conferência Regional de Pedologistas” e a “3ª Conferência Interafricana dos Solos”. Onde, dentre outros assuntos, apresentou-se para a discussão a 1ª aproximação da Carta dos Solos da Africa ao Sul do Sara, houve progresso na definição dos solos e na sua nomenclatura e abriu oportunidade para a discutir a 2ª aproximação e a preparação para a apresentação da 3ª aproximação da Carta dos Solos da África ao Sul do Sara que teve uma ligação com a classificação Francesa, enriquecendo o conjunto com contribuição de certos conceitos desenvolvidos para solos do Congo por pedologistas Belgas (MPA, 1961).
Do ponto de vista científico, investigaram-se os principais tipos de solos de Angola numa perspectiva global e tipicamente naturalista, caracterizaram-se quanto à morfologia e a aspectos físicos, químicos e mineralógicos, definiu-se a sua taxonomia pedológica e estudou-se a sua distribuição geográfica.
Dessa actividade de caracterização, classificação e cartografia de solos, resultou a publicação de um vasto conjunto de Cartas de Solos: Ex-distritos da Huíla e Cunene (1959); Ex-distrito do Huambo (1961); Ex-distrito de Moçâmedes (1962); Ex-distrito Cabinda (1965); Ex-distritos Uíge e Zaire (1972); Ex-distrito Benguela (1981); Província de Cuanza Sul (1985); Província de Malanje (1995); Província de Bié (2002). Em vias de publicação: Províncias de Lunda Norte, Lunda Sul e Moxico, e Província de Cuando-Cubango. Em elaboração: as Cartas das Províncias de Luanda, Bengo e Cuanza Norte.



Figura 2 – Carta geral dos solos de Angola (etapas de evolução dos estudos)


Além disso tornou-se possível cobrir todo o território angolano com uma carta de solos, tendo-se publicado nesse sentido a Carta Generalizada dos Solos de Angola (3ª aproximação) em 1965.
No que respeita à Taxonomia Pedológica, os estudos desenvolvidos que conduziram à construção de um Sistema de Classificação dos Solos de Angola contribuíram de forma marcada para o progresso da taxonomia dos solos tropicais (IICT, sem referência).
Embora já se obteve essa 3ª aproximação (1965), o conhecimento obtido quanto às características, tipologia, classificação e distribuição geográfica dos solos de Angola – conhecimento esse que era directo em relação às áreas estudadas e que correspondia a uma previsão no respeitante às áreas ainda não estudadas, fazendo-se tal previsão por extrapolação para estas últimas áreas dos conhecimentos que se haviam obtido directamente nas primeiras, atendendo à correlação verificada entre os respectivos factores pedogenéticos. Houve a necessidade de se fazer novos estudos; foi assim que surgiu a 4ª Aproximação concluída em 1997 (numa versão digital, formato vectorial) e foi elaborada utilizando a Classificação de WRB (World Reference Base for Soil Resources).
A primeira versão da WRB foi lançada durante o 16° “World Congress of Soil Science” em Montpellier em 1998 e, desde então, tornou-se a referência oficial para a nomenclatura dos solos e para a classificação dos mesmos na Comissão Europeia e foi adoptada como ferramenta preferida pela “West and Central African Soil Science Association” para harmonizar e trocar informações na região (WRB, 2006).


Figura 3 – Carta Generalizada dos Solos Angola (WRB, 2006)

Tais tipos de solos em Angola se verificam em grande parte dos planaltos do centro e sub planaltos centro-norte: Huambo, Huila, Zaire, Uige, Malange, Ndalatando, Kwanza – Sul e Bié (Sertoli, 2006).



Referências
MISSÃO DE PEDOLOGIA DE ANGOLA E MOÇAMBIQUE E CENTRO DE ESTUDO DE PEDOLOGIA TROPICAL (1965).“3ª Aproximação da Carta Generalizada dos Solos de Angola”. Junta das Missões e de Investigações do Ultramar. Ministério do Ultramar.
MISSÃO DE PEDOLOGIA DE ANGOLA (1961). “Carta Geral dos Solos de Angola – II-Distrito de Huambo”. Junta de Investigação Ultramar. Ministério do Ultramar.

PEEL, M. C. AND FINLAYSON, B. L. AND MCMAHON, T. A. (2007). "Updated world map of the Köppen-Geiger climate classification". Hydrol. Earth Syst. Sci. 11: 1633-1644. ISSN 1027-5606.
RICARDO, R. P. (1961). “Características dos ácidos húmicos de alguns solos de Angola”. Estudos, ensaios e documentos nº87. Junta de investigação do ultramar, Lisboa.
SERTOLI, PAOLO ENRICO (2009). As características do complexo de troca e a classificação dos solos da República de Angola. Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Agronómica. Instituto Superior de Agronomia. Universidade Técnica de Lisboa.

Felisberto Monteiro Queta