quinta-feira, 14 de abril de 2016

AS RAVINAS EM ANGOLA_ Causas e medida de contenção *(Resumo)


Ravina no Uige

A Terra que conhecemos hoje nem sempre foi assim. Ao longo de milhões de anos têm sofrido significativas mudanças provocadas por numerosos fenómenos geológicos que visam o seu equilíbrio, alguns de ordem interna, criando novas formações geológicas e, outros de ordem externa suavizando as formações anteriormente criadas. Do ponto de vista tectónico Angola localiza-se numa zona relativamente estável o que lhe confere um certo privilégio quando comparada com certos países asiáticos ou mesmo americanos onde com alguma frequência ocorrem os sismos e as erupções vulcânicas.
Contudo, o mesmo não se pode dizer em relação à ocorrência de fenómenos geológicos de âmbito externo, como é o caso das ravinas, que em anos mais recentes tem tomado corpo em muitas províncias, especialmente devido a actividade antrópica, colocando em risco infra-estruturas, campos agrícolas, rios e a vida da população. Entendemos que a redução desses riscos começa sobretudo pela identificação dos mesmos, e a posterior tomar as respectivas medidas preventivas.

O presente trabalho surge como resultado de alguns trabalhos de pesquisa desenvolvidos pelo autor em decorrência dos cursos de Erosão dos solos e Estabilização de solos sujeitos a fenómenos de erosão ministrados pelo Laboratório de Engenharia de Angola (LEA) e pelo insuficiente conhecimento que se tem sobre este fenómeno num país que se pressupõem que tenha as condições necessárias para a formação do mesmo.
Para a efectivação desse trabalho recorreu-se a consulta de dados cartográficos, pesquisa bibliográfica, auscultação de alguns representas provinciais e moradores locais, bem como a constatação in loco de algumas áreas afectadas.

Os resultados obtidos permitem-nos aferir que as principais províncias afectadas pelo fenómeno de ravinamento localizam-se nos planaltos Central e Norte, assim como na região leste, nomeadamente: Zaire, Uíge, Huambo, Bié, e com maior incidência nas províncias da Lunda Norte, Lunda Sul, Moxico e mais recentemente na província Cuando-Cubango. Não descartando, porém, a existência das mesmas noutras regiões, como por exemplo em Luanda e em Cabinda [1].

Relativamente as causa, podemos aferir que as ravinas em Angola são primeiramente decorrentes de fenómeno naturais, resultantes da conjugação de três factores naturais: clima, relevo e tipos de solo [2]. Ao adicionarmos a esses factores a actividade antrópica, nomeadamente a execução de obras de construção, obstrução do sistema de drenagem, exploração de inertes, actividade agrícola e queimadas torna o fenómeno mais activo requerendo muitas das vezes acções imediatas.

Estas podem ser mediante a intervenção de medidas estruturais ou de engenharia e mediante as medidas de estabilização através da cobertura do solo degradado [2]. Neste trabalho apresentamos um exemplo de medidas de estabilização através da implantação de uma vegetação local denominada Pennisetum purpureum ou vulgarmente chamada capim de elefante. É uma gramínea perene, típica de ambientes tropicais que devido às suas características morfológicas, físicas e de propagação, julgamos que pode ser uma alternativa para recuperação de ravinas, especialmente em zonas rurais dado que é uma técnica simples, de baixo custo e eficiente.


Espera-se que os resultados obtidos possam contribuir para uma melhor compreensão das causas do fenómeno de ravinamento em Angola e que o método de estabilização adoptado possa ser adaptado noutras províncias afectadas a fim de prevenir e conter as ravinas. 


Referências:
[1] Governo de Angola. (2011) In: Plano Estratégico de Gestão de risco de desastres. Diário da República. I Serie Nº95, 2962-2963

[2] Chinguar L (2011) Erosão, um fenômeno natural e previsível, mas que surpreende sempre

[3] Laboratório de Engenharia de Angola & Laboratório Nacional de Engenharia de Civil (2014) Curso de Erosão dos solos.