A
Terra que conhecemos hoje nem sempre foi assim. Ao longo de milhões de anos têm
sofrido significativas mudanças provocadas por numerosos fenómenos geológicos
que visam o seu equilíbrio, alguns de ordem interna, criando novas formações
geológicas e, outros de ordem externa suavizando as formações anteriormente
criadas. Do ponto de vista tectónico Angola localiza-se numa zona relativamente
estável o que lhe confere um certo privilégio quando comparada com certos
países asiáticos ou mesmo americanos onde com alguma frequência ocorrem os
sismos e as erupções vulcânicas.
Contudo,
o mesmo não se pode dizer em relação à ocorrência de fenómenos geológicos de
âmbito externo, como é o caso das ravinas, que em anos mais recentes tem tomado
corpo em muitas províncias, especialmente devido a actividade antrópica,
colocando em risco infra-estruturas, campos agrícolas, rios e a vida da
população. Entendemos que a redução
desses riscos começa sobretudo pela identificação dos mesmos, e a posterior tomar as respectivas
medidas preventivas.
O
presente trabalho surge como resultado de alguns trabalhos de pesquisa
desenvolvidos pelo autor em decorrência dos cursos de Erosão dos solos e
Estabilização de solos sujeitos a fenómenos de erosão ministrados pelo
Laboratório de Engenharia de Angola (LEA) e pelo insuficiente conhecimento que
se tem sobre este fenómeno num país que se pressupõem que tenha as condições
necessárias para a formação do mesmo.
Para
a efectivação desse trabalho recorreu-se a consulta
de dados cartográficos, pesquisa bibliográfica, auscultação de alguns
representas provinciais e moradores locais, bem como a constatação in loco de algumas áreas afectadas.
Os
resultados obtidos permitem-nos aferir que as principais províncias afectadas
pelo fenómeno de ravinamento localizam-se nos planaltos Central e Norte, assim
como na região leste, nomeadamente: Zaire, Uíge, Huambo, Bié, e com maior
incidência nas províncias da Lunda Norte, Lunda Sul, Moxico e mais recentemente
na província Cuando-Cubango. Não descartando, porém, a existência das mesmas
noutras regiões, como por exemplo em Luanda e em Cabinda [1].
Relativamente
as causa, podemos aferir que as ravinas em Angola são primeiramente decorrentes
de fenómeno naturais, resultantes da conjugação de três factores naturais: clima,
relevo e tipos de solo [2]. Ao adicionarmos a esses factores a actividade
antrópica, nomeadamente a execução de obras de construção, obstrução do sistema
de drenagem, exploração de inertes, actividade agrícola e queimadas torna o fenómeno
mais activo requerendo muitas das vezes acções imediatas.
Estas podem ser mediante a intervenção de medidas
estruturais ou de engenharia e mediante as medidas de estabilização através da
cobertura do solo degradado [2]. Neste trabalho apresentamos um exemplo de
medidas de estabilização através da implantação de uma vegetação local
denominada Pennisetum purpureum ou vulgarmente chamada capim de
elefante. É uma gramínea perene, típica de ambientes tropicais que devido às
suas características morfológicas, físicas e de propagação, julgamos que pode
ser uma alternativa para recuperação de ravinas, especialmente em zonas rurais
dado que é uma técnica simples, de baixo custo e eficiente.
Espera-se que os resultados obtidos possam contribuir para uma
melhor compreensão das causas do fenómeno de ravinamento em Angola e que o
método de estabilização adoptado possa ser adaptado noutras províncias afectadas
a fim de prevenir e conter as ravinas.
Referências:
[1] Governo de
Angola. (2011) In: Plano Estratégico de
Gestão de risco de desastres. Diário da República. I Serie Nº95, 2962-2963
[2] Chinguar L
(2011) Erosão, um fenômeno natural e
previsível, mas que surpreende sempre
[3] Laboratório de Engenharia de Angola & Laboratório Nacional de Engenharia de Civil
(2014) Curso de Erosão dos solos.